(Resenha) Ivan Illich e a sociedade sem escolas - Crítica a escolarização

Em tempos de discussão política, educação sempre toma uma das frentes nos debates. Tema recorrente, todos querem ter um avanço na educação, isso é claro, vemos milhares de discussões sobre a questão educacional, todas elas passam pela escola, o que parece óbvio.

Mas e se não for tão óbvio assim?

Em uma sociedade onde a escola é, há tempos na realidade, uma das instituições que tomam a frente na sociedade, se torna quase impossível cogitar sua existência, muitos criticam seu modelo, defeitos e imperfeições, mas ninguém propõe o que Ivan Illich faz, o autor, ousadamente questiona, e se o caminho estiver na "desescolarização" ou no fim da escola como conhecemos?

Sobre o autor

Austríaco, o polimata e pensador Ivan Illich foi um dos mais influentes críticos das instituições sociais. Crítico da sociedade industrial, escreveu sobre vários temas, como a medicina, mas sua principal obra é A sociedade sem escolas, de 1970, onde o autor propôs um novo modelo educacional que fugia do maquinarismo escolar.



No decorrer da obra, essa pergunta é respondida em Sociedade sem escolas, publicado em 1970, o livro é uma crítica ao sistema educacional moderno.

Dentre as críticas propostas por Illich, as principais são direcionadas ao caráter institucionalizador que a escola propõe a educação. Segundo o autor, a escola traz um sistema burocrático, maçante e desmotivador. Com as mesmas e repetitivas regras chatas, a escola se tornaria um órgão que sacrifica o verdadeiro caráter da educação a um mero currículo.

"A universidade moderna confere o privilégio de discordar apenas aos que foram testados e classificados como potenciais homens de dinheiro ou detentores de poder. Ninguém recebe um centavo dos fundos fiscais para formar-se nas horas vagas ou para educar outros, a não ser que possa comprová-lo com um certificado. As escolas escolhem para os estágios seguintes aqueles que, nos primeiros estágios do jogo, provaram ser bons investimentos para a ordem estabelecida."

O aluno, seria portanto, atingido diretamente pela burocratização, desmotivado pelas incessantes repetições do ritual escolar.

Já a escola, com seu local quase que divino na sociedade moderna, alienaria os alunos, com os seus meios de auto-manuntenção como instituição, criando a ilusão de sua própria necessidade, tornando impossível cogitar um mundo sem a mesma. A alienação partiria ainda, da criação de uma cultura industrialista, que prenderia o aluno a cultura industrialista, tornando um aluno, um mero escravo do mercado de diplomas.


Tendo em vista o caráter autoritário, maçante, alienador e burocrático da escola, o autor vê com bons olhos uma nova maneira de se aprender, um ensino baseado no modelo autodidata. Em oposição a institucionalização burocrática, Illich propõe que o ensino não seja tão monopolizado, que seja propagado cada vez mais o mais comum caminho de aprendizado, o contato do homem com o ambiente e sociedade. Aqui, se destaca várias vezes a importância das reuniões informais, sejam as de cunho literário, ou de informações sobre música ou a filmes, o autor propõe um novo modelo de reuniões como uma sala de aula fora da escola, onde cada um estaria lá por puro interesse, não por imposição social.

A maioria do que aprendemos, não aprendemos na escola, mas sim com a vivência como um todo. A escola não nos ensina a andar, a falar, nem as informalidades da vida, a escola propõe um currículo formal programado "roboticamente", desprezando todo o ensino informal, ou o jogando de lado.

A importância desse ensino informal, tido pelo contato, compartilhamento de informações, saberes e experiências grupais, aqui é colocado em destaque. O ensino formal deveria ser reduzido, a sociedade em todo agindo como uma escola se faria mais eficaz, do que uma obrigatória prisão institucional. O autor reitera ainda, durante a obra, o quão a obrigatoriedade do ensino formal é prejudicial, sendo gerador de desigualdade para os que não se adaptam.



Em suma, o título do livro pode parecer um tanto chocante, para nós, contemporâneos de uma sociedade escolarizada, mas Illich faz sua crítica muito bem baseada. Choca por atacar diretamente uma instituição que tem o caráter quase divino em nossa sociedade. O livro tem uma escrita bem interessante, utilizando de exemplos práticos, usando citações e afirmações dos pedagogos conhecidos e de grandes intelectuais. Usa ainda de dados para ilustrar suas afirmações. Em um primeiro momento o autor demonstra as falhas da instituição, depois de expor sua fenomenologia, ele propõe um novo modelo de ensino informal.

Ainda que, você não concorde com a proposta de uma sociedade sem escolas, a leitura de Illich se faz essencial para os que se interessam pela educação como um todo. Ainda que revolucionário até demais, a obra garantiu seu lugar de influência, sendo colocado entre as leituras essenciais dos estudantes de pedagogia. O autor também é colocado pelo MEC como um dos mais influentes e importantes pensadores da educação, o que é até surpreendente, vindo dessa instituição.

A sociedade sem escolas é um livro que vai fazer você repensar a nossa sociedade e o modelo educacional que poucos tem real coragem de se opor. Termino com uma citação que sempre repito quando se trata de instituições e ideias, tudo o que é incontestável é perigoso.


Comentários