Muito dos que planejam adentrar no árduo e iluminador caminho da intelectualidade, não sabe por onde começar, ainda há aqueles, que quando começam, muita vez acabam se perdendo e caindo em uma das milhões de armadilhas que estão pelo caminho.
Bem, infinitas são as questões que provocam e amedrontam os iniciandos, quanto tempo estudar? Como estudar? O que decorar? O que ler? Como ler?
Aos que chegam perdidos no mundo intelectual, uma luz é tudo o que lhe falta para lhe guiarem e ninguém faz de maneira tão majestosa quanto A.D Sertillanges.
Influenciado diretamente pela doutrina Tomista e Aristotélica, o teólogo autor de "A vida intelectual" embarca numa busca pelo que é ser um intelectual. Na obra que serve como um guia do mundo dos estudos, Sertillanges não só entra em questões práticas como "O que estudar?" Ou "Como ler", coisa que o faz já no final de sua obra", logo ao começar o livro, Sertillanges tem uma atenção especial em dizer o que é ser intelectual, e demonstrar que o conhecimento basta a si mesmo como fim.
Durante os nove capítulos, Sertillanges debate sobre a questão do trabalho intelectual, mas antes faz uma análise sobre a essência da intelectualidade.
" (…) venham à vida intelectual com propósitos desinteressados, não por ambição ou tola vaidade. Os chamariscos da publicidade só tentam os espíritos fúteis. A ambição ofende a verdade eterna quando a transforma em sua subordinada."A verdade é o fim em si mesma, repete incessantemente durante a obra, o intelectual é um consagrado que deve buscar-la somente por um fim, o que o faz por dinheiro, poder, fama ou para suprir o ego próprio, não está sendo um intelectual, está invertendo a relação e cometendo o pecado de inverter a relação de hiponimia humana e subvertendo a verdade ao homem, a medida que o intelectual é o instrumento da verdade.
"...Perseverar é querer. Aquele que não persevera não quer, ele está só projetando. Aquele que desiste nunca insistiu; aquele que deixa de amar nunca amou. Se o destino é uno, o que não dizer de uma obra parcial. O intelectual genuíno é por definição perseverante. Ele assume a tarefa de preencher e de ensinar; ele ama a verdade de corpo e alma; ele é um consagrado: ele não renuncia prematuramente..."O homem é um intelectual, mas antes de ser um intelectual é homem, Sertillanges não esquecer o caráter carnal do homem. Cuidas da sua saúde e mantenha o espírito aliado ao corpo, não esqueça de ser servil a Deus, não esqueças de que és um homem e tem limites carnais, expanda-os, parafraseando uma citação utilizada pelo autor: "...quem não tem tempo de exercita-se, terá tempo para estar doente...".
Uma vez que Sertillanges institui o que é o intelectual e a que ele serve, Sertillanges entra no mérito do trabalho intelectual, durante os capítulos finais, o autor adentra na questão da "preparação para o trabalho intelectual", "o trabalho em si" e sobre a "propagação do trabalho.".
"...As grandes descobertas se resumem a reflexões sobre fatos comuns a todos. Passa-se miríades de vezes sem nada ver, um dia, o homem de gênio observa as amarras que ligam ao que ignoramos o que está sob nossos olhos a cada instante. O que é a ciência se não a cura lenta e progressiva para nossa cegueira?..."Duas horas por dia, para Sertillanges isso basta, mas duas horas de profunda concentração e entrega é suficiente, mais vale que 5 horas de estudo desregulado e supérfluo.
Mantenha isolamento quando necessário, o mundo é tentação, a tentação é vício que corrompe a serenidade e entrega necessária ao mundo intelectual.
O intelectual não é um isolado, ele pertence a sua época e sua sociedade, não podendo se desvencilhar-se do que é, retomando a questão da natureza humana, o intelectual é um homem e não deve agir como se não o fosse.
Leia com cuidado, não se entregue aos clichês e ao exibicionismo quanto ao mundo literário. Para os que querem se jogar no mundo intelectual, poucos livros bastam, a leitura deve ser lenta porém profunda.
"Deve-se ler inteligentemente, não apaixonadamente. Deve-se ir aos livros como a dona de casa vai ao mercado, uma vez definidos os cardápios do dia em conformidade com as leis da saúde e das despesas equilibradas. O espírito da dona de casa no mercado não é o mesmo que ela terá no cinema, à noite. Não se trata de se enebriar, de se maravilhar, mas de administrar um lar e fazer com que ele viva bem."Quanto a escrita, Sertillanges a define como objetivo final do trabalho intelectual, o ato de escrever é propriamente o ato de criar, onde o intelectual expõe sua ideia ao mundo exterior e deve interagir com tal.
Siga o exemplo dos grandes homens e dos santos, diz Sertillanges, mas não se mantenha preso, a doutrina inspira mas não serve como manual de instruções.
Resumo da ópera, seria impossível em apenas uma mera resenha, expor tudo o que há de valioso em obra de tamanha singularidade, e nem ousaria em fazê-lo, o que objetivo ao vir até você, leitor, é inspira-lo a leitura.
A obra A vida intelectual é um guia de leitura mais que essencial para os que querem jogar-se no mar sem fim que é a busca do conhecimento, A.D Sertillanges toca em pontos essenciais, ele parte da base e chega até a aplicação prática, desde o que é o intelectual até os meios de fazer-se intelectual, manter-se intelectual e viver a busca pela verdade.
Na humilde opinião de quem vós escreve, não há no mercado tão valiosa obra quanto ao mundo intelectual.
Ad Veritatem!
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