Antes de adentrar propriamente nos três fatores, o autor faz uma localização do funcionamento do mercado antes e depois do divisor de águas da economia, a acumulação de capital e terras.
Segundo o autor, antes de se dar início ao fenômeno da acumulação de capital, "...a proporção entre as quantidades de trabalho necessárias para adquirir os diversos objetos parece ser a única circunstância capaz de fornecer alguma norma ou padrão para trocar esses objetos uns pelos outros...", para demostrar a tese, o autor demonstra um exemplo:
"...se em uma nação de caçadores abater um castor custa duas vezes mais trabalho do que abater um cervo, um castor deve ser trocado por -- ou então, vale -- dois cervos. É natural que aquilo que normalmente é o produto do trabalho de dois dias ou de duas horas valha o dobro daquilo que é produto do trabalho de um dia ou uma hora...."Essa afirmação, nada mais é do que uma continuação da tese do capítulo 5, a teoria do valor-trabalho.
O autor segue ainda explicando as variáveis que influenciam a questão do salário, entre elas se destacam: a questão da dificuldade, embora seja de difícil mensuração, é um fator essencial, um hora de um trabalho duro deve, por natureza, valer duas vezes mais que uma hora de um trabalho que exija apenas metade do esforço. Outro fator que seria essencial, é o fator de talento excepcional, algo que seja, em outras palavras raro ou exiga um investidor demorado em evolução, um exemplo seria uma pintura ou uma escultura, que exigem anos e anos de aprimoramento.
Considerando esse estágio primitivo, Smith considera que:
"...Nessa situação, todo o produto do trabalho pertence ao trabahador; e a quantidade de trabalho normalmente empregada em adquirir ou produzir uma mercadoria é a única circunstância capaz de regular ou determinar a quantidade de trabalho que ela normalmente deve comprar, comandar ou pela qual deve ser trocada. .."Entretanto, em dado momento, houve um fenómeno onde o capital começou-se a acumular nas mãos de pessoas privadas, assim como as terras, a partir desse momento houve uma revolução no modo de funcionamento do mercado, a partir desse momento, as pessoas passaram a trabalhar para a iniciativa privada, que investiria o seu capital acumulado, suas terras e investiria em contratar pessoas para trabalhar, nessa terra, trabalho esse que seria potencializado pelas máquinas e estrutura adquirida pelo "patrão", também conhecido como fator capital.
E desse nascimento do "empreendedorismo", surgiu uma nova conjuntura, que envolveria a relação entre patrão e empregado, essa remodelagem funciona em duas perspectivas: ida e volta;
Na perspectiva da "ida", temos o ponto de vista da produção, Smith instituiu a visão que futuramente seria melhor trabalhada e resultaria no que hoje em dia chamamos de fatores de produção. Nessa visão simplista, Smith instituiu primeiramente dois: trabalho e capital.
O fator trabalho diz respeito ao empregado e o que ele produz, o fruto de seu trabalho, ou seja, o trabalho que ele emprega.
Já o fator capital diz respeito ao "chefe" ou empreendedor, o capital é tudo o que é capaz de potencializar o trabalho.
Para melhor observar a situação, utilizarei de um exemplo:
Imagine uma situação onde um funcionário produz roupas artisticamente, sua produção será lenta e geralmente artesanal, ele irá diretamente ao mercado onde venderá e será recompensado.
Em certo momento, o empreendedor, que não tem conhecimento de como se produz, utiliza de seu capital e compra uma máquina de costura, ele contrata o funcionário, e a partir desse momento, o funcionário terá uma produção superior, e ao invés de ir diretamente ao mercado, ele vende o seu trabalho ao empreendedor. Agora que explicamos a lógica da produção, vamos analisar o caminho de volta, ou seja, a lógica da remuneração.
Uma vez que o trabalho é concluído, o empreendedor, que toma posse, vai ao mercado e vende o produto, então o caminho de volta ocorre que, o salário remunera o trabalho, já que o funcionário abriu mão de seu trabalho, o salário funciona como a sua recompensa, pelo seu trabalho potencializado pelo capital, capital esse que envolve um risco variável por parte do empreendedor.
Ora, o que tem o capital acumulado, ao entrar na empreitada, assume os riscos de investir seu patrimônio em determinada obra, que pode ser lucrativa ou não, então entra aí, um conceito elementar da Economia de mercado, o lucro.
O lucro originalmente, nada mais é que a remuneração do fator capital. E é o lucro que motiva o empresário a investir seu capital, a vontade de aumentar seu capital utilizando-se do trabalho alheio.
Pondo em números, podemos exemplificar da seguinte maneira, a relação entre ida e volta:
O empregado, produz sozinho, sem capital envolvido, apenas 10 produtos de 10,00 ao mês, adquirindo ao fim da soma, 100 reais.
O dono do capital, resolve investir 1.000 reais, do seu capital, em estrutura, então, uma vez que adquiriu sua estrutura, resolve contratar um funcionário.
O funcionário, agora com seu trabalho potencializado, produzirá geralmente mais e melhor, portanto, podemos expressar que ele produz agora 300 produtos ao preço de 20 reais, adquirindo assim, 6.000 reais.
Agora voltando, o empresário que desta vez tem 6.000 reais, remunera o funcionário com 1.000 reais, aumentando em 10 vezes a sua renda mensal, já ao empregador, resta 5 mil, aumentando em 5 vezes seu capital, que partiu de 1.000 para 5.000.
Espero que o exemplo tenha deixado claro, obviamente, não é em todos casos que teremos um lucro mútuo tão exorbitante, mas a função é apenas demostrar de maneira simplificada, o porquê passou-se a empreender.
Entretanto, com o tempo, um terceiro fator entrou na conta: o fator terra.
Principalmente ao se tratar da agricultura, o fator do aluguel se tornou um ponto essencial no que se refere a fatores envolvidos na produção. No caminho de ida, temos que a terra será o fator natural, no caso da agricultura, o dono da terra que arrendou a sua terra, e no caminho de volta, a remuneração ao fator terra se denomina renda de terra.
Adicionando esse quesito, temos que o preço natural (tratado no próximo capítulo) advém diretamente ou indiretamente desses três fatores, a eles foram dado o nome de Fatores de produção (questão que logo será tratada sob ótica posterior).
Ou seja, o preço natural de qualquer item deve antes de tudo remunerar os 3 fatores, exemplo: o preço natural do trigo, deve se preocupar em pagar o aluguel da terra, o salário dos envolvidos em sua produção e o lucro do empreendedor.
Existem, obviamente excessões, como trabalhos autônomos, casos onde o dono da terra é dono do capital, onde o dono do capital é também dono da terra e nela trabalha, e etc. São várias as conjunturas possíveis.
Outro fator interessante que deve ser levado em conta é o quesito de que os fatores de produção se correlacionam conforme a complexidade do produto aumenta.
"...Quanto mais determinada mercadoria sofre uma transformação manufatureira, a parte do preço representada pelos salários e pelo lucro se torna maior em comparação com a que consiste na renda da terra..."Conforme aumenta-se a complexidade, maior se torna o trabalho, e por natureza maior é o capital envolvido (esse ponto logo será tratado em matéria posterior).
Considerações finais
Embora escrito em 1766, esse capítulo de A riqueza das nações é incrivelmente moderno, embora talvez não se faça transparecer essa coligação ao mundo moderno, conceitos elementares e de comum debate, embora desconhecido por parte das pessoas, é fundamentalmente ligado.
Falo, antes de tudo de duas matérias que futuramente trataremos de deliberar aqui: o PIB, a mensuração do PIB em suas 3 óticas são nada mais que o desdobramento dos 3 fatores de produção e os fatores de produção, com a evolução da economia, houve revoluções quanto a maneira de se olhar os fatores de produção, embora ainda se desdobra, em sua maioria, dos três fatores basilares (Terra, trabalho e capital), outros fatores, até certo ponto abstratos, foram adicionados.
No próximo artigo, trataremos da essencial diferença entre preço natural (o que foi tratado nesse artigo) e preço de mercado
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