Adam Smith e o valor das coisas

Uma vez que Smith trabalhou a questão da divisão do trabalho e do dinheiro, Smith adentra, ainda no final do quarto capítulo, em uma questão fundamental da economia, se não a mais basilar, o valor.

Muito comum nos tempos atuais tratarmos do valor de algo pelo valor monetário, tal coisa vale 10 reais ou 100 dólares, enfrentanto, a questão do valor é um tanto mais complexa, e não se limita exclusivamente ao valor nominal (em dinheiro).

Smith propõe alguns sentidos para a palavra valor, cada uma tendo suas divisões, ainda no capítulo 4, ele tratou da questão do valor de uso e valor de troca.

O valor de uso seria a real utilidade de determinado item, ou seja, a sua função.

Já o valor de troca seria o quanto algo vale para o mercado, ou seja, seu potencial de troca comercial.

Um ponto interessante da teoria Smithiana é que ele relaciona as duas como grandezas inversamente proporcionais, e para sustar esse argumento ele usa o exemplo da água e do diamante.

A água, tem a utilidade maior que há, sem ela não a vida, entretanto, embora a água tenha um altíssimo valor de uso, ela não tem valor de troca.

Enquanto o diamante é até certo ponto inútil, ainda mais se comparado a água, o diamante seria apenas um adorno, entretanto, por questões que Smith adentrará, ele tem um alto valor de troca, possuindo um grande valor.


Após instituir a diferença entre valor de troca e valor de uso, parte-se para a investigação sobre o que molda o valor de troca de todas as coisas, e nesse ponto surge mais dois conceitos: o valor real e o valor nominal.

Esse ponto sobre qual o capítulo 5 versa é uma das chaves mestras do pensamento Smithiano, e foi nesse ponto que foi instituído o valor trabalho, que foi a teoria majoritária na economia por um bom tempo.


"...Todo homem é rico ou pobre, de acordo com o grau em que consegue desfrutar das coisas necessárias, das coisas convenientes e dos prazeres da vida..."
Segundo a teoria de valor trabalho de Adam Smith, o valor de cada coisa seria o tanto de trabalho que ele custou para ser produzido, ou seja, resumindo e ignorando as variáveis, podemos dizer que se algo custou duas horas de trabalho, e outro item custou quatro horas do mesmo ritmo e esforço de trabalho, o segundo item teria 2 vezes o valor do primeiro item, considerando claro, que se trata de uma explicação básica, existe vários fatores não mensuráveis envolvidos.

Ou seja, o valor real de cada item é igual ao trabalho que foi investido em trabalho para que possa comprar tal item, ou nas palavras de Smith: trabalho ou incômodo que a pessoa pode poupar de si e impor a outros.

Seguindo essa lógica, o preço real de cada item, seria o tanto de trabalho que custa a aquisição, exemplo:

Se eu trabalho uma hora para comprar um item e duas horas para comprar o segundo item, o segundo teria o preço real maior.

Já o preço nominal seria o mais próximo ao que temos em mente hoje em dia, é equivalente ao preço em dinheiro de cada item, no mercado.

"...Ocorre, portanto, que o valor de troca das mercadorias é mais freqüentemente estimulado pela quantidade de dinheiro do que pela quantidade de trabalho ou pela quantidade de alguma outra mercadoria que se pode adquirir em troca da referida mercadoria..."

Poder de compra

Outro ponto interessante e que vale a citação é a explicação de Smith sobre o poder de compra, e desmitificando se relação natural, embora intrínseca, com os "demais poderes":

"...Riqueza é poder, como diz Hobbes. Mas a pessoa que adquire ou herda uma grande fortuna não necessariamente adquire ou herda, com isto, qualquer poder político, seja civil ou militar. Possivelmente sua fortuna pode dar-lhe os meios para adquirir esses dois poderes, mas a simples posse da fortuna não lhe assegurará nenhum desses dois poderes. O poder que a posse dessa fortuna lhe assegura, de forma imediata e direta, é o poder de compra; um certo comando sobre todo o trabalho ou sobre todo o produto do trabalho que está então no mercado. Sua fortuna é maior ou menor, exatamente na proporção da extensão desse poder; ou seja, de acordo com a quantidade de trabalho alheio ou -- o que é a mesma coisa -- do produto do trabalho alheio que esse poder lhe dá condições de comprar ou comandar. O valor de troca de cada coisa será sempre exatamente igual à extensão desse poder que essa coisa traz para o seu proprietário. .."
O valor do trabalho

Uma vez instituída e devidamente explicada a questão do valor real e nominal de cada item, levanta-se pela primeira vez a questão do "salário" (embora seja aprofundando em capítulos específicos sobre o salário.). Smith deixa claro a questão de que o trabalho, assim como as mercadorias, se deixa levar pelo "jogo de mercado", e em certos pontos valem mais ou menos que em outros:

"...Contudo, embora quantidades iguais de trabalho sempre tenham valor igual para o trabalhador, para a pessoa que as emprega, essas quantidades de trabalho apresentam valor ora maior, ora menor, o empregador compra o trabalho do operário ora por uma quantidade maior de bens, ora por uma quantidade menor..."

E assim como as demais mercadorias, o trabalho tem dois valores, real e nominal, entretanto, o valor real que seria o ponto de referência, já que está até certo ponto mais blindado de flutuar do que o valor nominal, sendo assim: "...o trabalhador é rico ou pobre, é bem ou mal remunerado, em proporção ao preço real do seu trabalho, e não em proporção ao respectivo preço nominal..."

Já que o preço real seria estável e o nominal estaria preso a questão da inflação (novamente, não adentraremos nesse questão, por ora, embora em a riqueza das nações praticamente metade do capítulo de dedica a explicação de questão análogas a tal), Smith explica que:

"Fica, pois, evidente que o trabalho é a única medida universal e a única medida precisa de valor, ou seja, o único padrão através do qual podemos comparar os valores de mercadorias diferentes, em todos os tempos e em todos os lugares."
Entretanto, quando se trata de um mesmo local e um mesmo tempo, ou seja, em um ambiente mais fechado, o valor nominal é o referencial, conforme é deliberado no trecho seguinte:
"...No mesmo tempo e no mesmo lugar, o preço real e o preço nominal de todas as mercadorias estão exatamente em proporção um com o outro. Por exemplo: quanto mais ou quanto menos dinheiro se receber por uma mercadoria qualquer no mercado de Londres, tanto mais ou tanto menos trabalho se poderá, no mesmo tempo e no mesmo lugar, comprar ou comandar. No mesmo tempo e lugar, portanto, o dinheiro é a medida exata do valor real de troca de todas as mercadorias. Assim é, porém, somente no mesmo tempo e no mesmo lugar. .."

Sendo assim, o que determina se um negócio é recomendável ou não, será o seu valor em dinheiro, ou valor nominal, segundo Smith.

Retomando, Smith trata o valor em duas divisões inciais:

O valor de uso seria a sua utilidade, que parece ser sempre proporcionalmente inversa ao valor de troca, que por sua vez, se divide em dois pontos, o valor real, expresso em trabalho e o valor nominal, expresso em dinheiro, e sendo em última análise, a correlação entre ambos se define o quão lucrativo e recomendável é o negócio em questão.

No artigo seguinte, adentraremos na questão dos fatores que compõem o mercado de trabalho, capítulo 6, que será de verás importante, já que adentrará em um dos conceitos mais essenciais do entendimento da economia e do conceito moderno de lucro, falo da questão dos fatores envolvidos no comércio dos produtos.

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